Abel
Padeiro, meu inesquecível e amado pai, sempre se preocupou com a
maneira correta de fabricar os pães a servirem as mesas de muita
gente. Tanto em Taubaté, por onde passamos, como em Campos do
Jordão, de onde viemos, e mesmo em Pinda, onde nos fixamos...
Aliás,
Abel Padeiro se preocupava com a qualidade dos pães mesmo em
momentos de folga. Falava de sua profissão com orgulho de gente boa,
humilde e responsável. Cuidava de preparar as ferramentazinhas com
as quais riscava os pães para os mesmos, depois de saídos do forno,
se apresentarem com agradável aspecto de produto bem feito.
O
cuidado para com a dosagem das matérias primas utilizadas na
panificação sempre foi elogiado pelos patrões e companheiros de
jornadas noturnas sobre as masseiras, mesas de manipulação e
fornalhas...
Com
sete anos de idade eu ajudava meu pai padeiro, nas madrugadas, a
desenfornar os pães, contando-os, separando por quantidade a ser
entregue a cada freguês de caderneta, de casa em casa, pedalando
aquelas bicicletas com enorme cesta de bambu...
Um
dos segredos que meu pai ensinou: o pão precisa ter a massa bem
misturada, o fermento pesado de acordo com a quantidade de trigo, a
água necessária e, na masseira, sovar a massa para que ela se
tornasse uniforme, bem aerada pelo fermento. Depois de sová-la, era
preciso um repouso, para a mesma melhor se comportar durante a
fornada, obtendo cozimento ideal.
E
daí, nós com isso? Poderão perguntar alguns.
É o
seguinte: hoje em dia, no terreno da política, há um conflito de
massas.
Tem
candidato batendo em candidato, dizendo que está apanhando deste e
se afirma confortável ao se comparar à massa do pão. “Quanto
mais apanha, mais cresce”...
Entretanto,
não é tão assim não.
Há
um tempo de sovar a massa e outro tempo de permitir que ela descanse
para se tornar bom produto.
Se
um candidato diz que está levando “sovas” e isto lhe é
confortável, precisa cuidar de entender sobre o tempo de descanso.
Por
outro lado, ele também “sova” o adversário, usando a mesma
moeda com a qual é tratado.
Trocando
em miúdos: acontece um “conflito de massas” e o povo pode mudar
de padaria, enquanto essas estão na divergência de qual massa é
melhor.
Refinando
o raciocínio: pode ser que um terceiro candidato se aproveite dessa
pendenga e faça seu discurso dentro das dosagens certas, esperando o
tempo de descanso de sua massa para mostrar melhor trabalho ao final
do frigir dos ovos...
Isso
se chama “sacada de marketing político”. Deixar dois brigando,
sovando a massa sem lhe dar descanso, enquanto a vitrine do produto
bem cuidado aparece e mostra ser de mais qualidade.
A
política de hoje carece de qualidade. O pão sovado é muito bom,
com manteiga, margarina, queijo com geleia e outras opções de
recheio. Desde que seja bem feito.
Acreditar
que muito sovar a massa, para que a mesma cresça mais, imaginando
que isso dá lucro, é arriscar perder todo o trabalho de
preparação... Não rende, quando levada ao forno, pois tende a
estar acima do tempo de descanso.
Desta
maneira, cuidado senhores políticos "sovadores" de massa.
Preocupando-se
em dizer que estão apanhando feito massa de pão, acreditando
estarem crescendo, podem estar – tão somente – perdendo tempo,
sem fazerem propaganda do seu verdadeiro produto capaz de alimentar
esperanças e granjear novos fregueses para sua proposta de
satisfazer a freguesia.
Sem
considerarmos a perspectiva de um terceiro panificador entender que
chegou a hora de ele ganhar o espaço no gosto da freguesia,
aproveitando o nicho aberto por conta de troca de recadinhos do tipo
“fez não fez”, “fugiu, não aguentou”, “tem processo daqui
e dali”, “não tem experiência e não trabalha aqui”, “ganha,
mas não trabalha”. De repente, até pode chegar algum pouco
conhecido no mercado e “melar” tudo, de novo... Só que desta
vez o resultado tende a ser diferente daquele de quatro anos atrás...
Como
diria meu pai: “Encruar é dose pra leão”...
É
minha Opinião.
Marcos
Ivan de Carvalho
Jornalista
MTb 36001
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