Dias Gomes, escritor baiano de talento e que nos
legou muitas coisas boas, contou em livro as agruras do Pagador de Promessas,
cujo texto inspirou filme consagrado com a Palma de Cannes, com roteiro e
direção de outro bom profissional, o saudoso Anselmo Duarte.
Dias Gomes, dono de outras obras como Saramandaia,
Roque Santeiro e As Noivas de Copacabana. Faleceu, vítima de acidente de
trânsito na Avenida Nove de Julho, em São Paulo, próximo à Rádio Capital. Nesse
dia eu estava no trabalho, dirigindo o programa “Capital na Madrugada”,
apresentado por Rosi Marx, e fomos um dos primeiros a veicular a infausta nota.
Pois bem. Em “O Pagador de Promessas”, Gomes trabalha
com a pureza do cidadão simples, honesto, desprovido de preconceitos e
altamente comprometido com suas boas intenções de levar a cabo um compromisso
assumido.
Enfrenta o descaso, o lado politicamente incorreto de
se avaliar situações, sofre traição e – pior ainda, passa a ser usado como
instrumento de autopromoção por aproveitadores, falsos amigos, oportunistas.
Contextualizando, inclusive, as divergências
religiosas, Dias Gomes recorta, do cotidiano, modelos de comportamento ainda
atuais em pleno Século XXI.
“Zés do Burro” existem aos borbotões, pelos espaços
por onde circulam pessoas de bem, altamente responsáveis pelos compromissos
assumidos, eternamente idealistas e carregadores de sonhos a serem desfrutados parcialmente
por eles, mas, intensamente, por seus herdeiros.
Assim como existem personagens da vida de agora com
as mesmas características daquelas as quais buscavam truncar a caminhada do
responsável Zé. Há os do povo, assumidamente em conluio com os do poder, os
quais se maculam com as plumas de "levadores" e "trazedores"
de falsas soluções, incríveis condições de pouco sucesso e capciosamente
focados na desgraça do Zé Povinho, para benefício próprio das quireras que
sobrarem.
Minimizam o respeito alheio, galgam minúsculos
tijolinhos e tentam rebater, com ameaças e punições – quando senhores da caneta
do poder – àqueles que reivindicam direitos e propagam sua vontade de poderem
viver com dignidade.
A Mitologia Grega, rica em deuses e espetacular em
modelos de filosofia, traz o episódio de Prometeu, cujo amor à humanidade foi
considerado como traição, por Zeus. Foi acorrentado em um topo de montanha,
para as aves de rapina lhe devorarem o fígado, mas este se regenerava da noite
para o dia. Cientificamente comprovado, o fígado é capaz de se recompor após
alguns tipos de lesão. Hércules, após cumprir seus trabalhos, aventurou-se pela
antiguidade e, num desses arroubos, libertou Prometeu.
Daí tem um trecho da narrativa grega que fala de
Pandora, a mulher que recebeu um baú onde estavam contidos todos os males
possíveis de afligir o povo. Esses males eram o que havia sobrado no baú, após
Epimeteu distribuir atributos aos animais. Apesar da recomendação do irmão de Prometeu,
Pandora abriu a caixa e dela escapou uma sorte de males, os quais até hoje
assolam a humanidade. Em tempo, a mocinha desavisada conseguiu fechar o baú a tempo
e dele não escapou o mal que botava fim na Esperança.
Zé do Burro não teve quase a mesma sorte. No “pega pra
capar” ocorrido nas escadarias da igreja onde pretendia colocar a cruz
prometida, foi atingido por um disparo e “apagou de vez”, com a esperança de
cumprir sua promessa.
Entretanto, os representantes do povo, no caso os
capoeiristas da história, depositaram o corpo de Zé sobre a cruz de madeira e a
introduziram caminhando pela nave da igreja. Foram instrumentos de cumprir a
promessa de um Zé do Povo.
Prometeu foi salvo do castigo. Zé do Burro, mesmo lá
no astral, viu cumprida sua promessa.
Hoje em dia, quando se fala que “alguém prometeu”
pode ser que morra na esperança.
Os “caras de hoje” já não são “OS CARAS” da estirpe
boa, dos bons conceitos, da boa formação, da boa informação e da boa intenção.
Muitas vezes fazem o povo pagar caro, para serem os
caras donos da caneta e do poder malvado, arrogante, desprovido de decência e
assentados em falsos tronos de poder, como parecem ser as cadeiras de gabinetes
diversos.
Arrebentam com a vida das pessoas e se deliciam com os
polpudos salários conquistados dos cofres públicos em formato de pagamento por
serviços prestados. Dinheiro do povo, fazendo o povo sofrer.
Prometeu? Não acredite. Passa a ser lenda, cada
promessa. Não existem mais pagadores de promessas como Zé do Burro.
Oxalá permita que Pandora não cisme de abrir o baú,
botando em risco nossa Eterna Esperança.
Dias Gomes se foi, está lá numa das nuvens do
firmamento transcendental.
Dias Melhores virão, tenhamos viva Esperança.
Enquanto isso, não deixemos a traição das promessas
assolar nosso sonho de Felicidade...
É minha Opinião.
Marcos Ivan de Carvalho.
Jornalista MTb 36001
Ivanpress@gmail.com.
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